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Inventário de Emissões de CO2: é obrigatório para quem?

O inventário de emissões de CO2 é mandatório para empresas que se enquadram em determinadas categorias, com foco naquelas que possuem um alto potencial de impacto ambiental. A obrigatoriedade no Brasil é influenciada por uma combinação de fatores, incluindo legislação federal, estadual e municipal, além de normas e diretrizes específicas para cada setor. A não conformidade com essas obrigações pode resultar em multas, sanções e restrições operacionais.

#### Principais Critérios para Obrigatoriedade:

  • Setores de alto impacto

    * Indústrias de Grande Porte:

    * Siderurgia: Empresas que produzem aço e ferro gusa, com altos fornos e processos de coqueria, emitem grandes quantidades de CO2 devido ao uso de carvão e outros combustíveis fósseis.
    * Cimento: A produção de cimento envolve a calcinação de calcário, liberando CO2 como subproduto.
    * Petroquímica: Refinarias de petróleo e plantas petroquímicas emitem CO2 durante o processamento de combustíveis e produção de plásticos e outros produtos químicos.
    * Papel e Celulose: A queima de biomassa e o uso de produtos químicos no processo de fabricação de papel contribuem para as emissões de CO2.
    * Outras: Inclui indústrias de vidro, cerâmica, alumínio e outras que utilizam processos intensivos em energia e matérias-primas.

    * Empresas de Geração de Energia:

    * Usinas Termoelétricas: Queimam combustíveis fósseis (carvão, gás natural, óleo) para gerar eletricidade, liberando grandes quantidades de CO2.
    * Hidrelétricas: Embora sejam consideradas fontes de energia renovável, grandes hidrelétricas podem emitir metano (CH4), um GEE ainda mais potente que o CO2, devido à decomposição de matéria orgânica em reservatórios.
    * Outras Fontes de Energia: Inclui usinas nucleares, usinas de biomassa e outras fontes de energia que podem ter emissões associadas.

    * Empresas de Transporte:

    * Aéreo: Companhias aéreas emitem CO2 devido ao consumo de querosene de aviação.
    * Rodoviário: Grandes frotas de caminhões e ônibus emitem CO2 devido ao consumo de diesel e gasolina.
    * Marítimo: Navios de carga e passageiros emitem CO2 devido ao consumo de óleo combustível.
    * Ferroviário: Trens de carga e passageiros emitem CO2 devido ao consumo de diesel ou eletricidade (dependendo da fonte de energia).

    * Setor Agropecuário:

    * Grandes Propriedades e Empresas: Atividades que envolvem desmatamento / mudança de uso do solo (liberação de CO2 armazenado na vegetação), queimadas (emissão de CO2 e outros gases), uso intensivo de fertilizantes nitrogenados (emissão de óxido nitroso – N2O) e criação de gado em larga escala (emissão de metano – CH4).
    Obs.: A adoção de práticas de agricultura de baixo carbono, como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e uso de bioinsumos, pode reduzir as emissões do setor.

    * Setor de Resíduos:

    * Aterros Sanitários: A decomposição anaeróbica de matéria orgânica em aterros sanitários produz metano (CH4), um GEE potente.
    * Empresas de Tratamento de Resíduos: Processos de incineração e compostagem também podem gerar emissões de CO2 e outros gases.
  • Legislação:
    • Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC): A PNMC (Lei nº 12.187/2009) estabelece diretrizes gerais para a redução de emissões de GEE no Brasil e pode influenciar a regulamentação em nível estadual e municipal.
    • Regulamentações Estaduais e Municipais: Muitos estados e municípios possuem suas próprias leis e regulamentos que exigem o inventário de emissões para certas atividades. É fundamental verificar as normas do local onde sua empresa opera. Exemplo: O estado de São Paulo possui o Programa Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), que estabelece metas de redução de emissões e pode exigir o inventário de emissões para empresas específicas.
    • Licenciamento Ambiental: Em alguns casos, a obrigatoriedade do inventário de emissões pode ser uma condição para a obtenção ou renovação de licenças ambientais. O órgão ambiental responsável pelo licenciamento pode exigir o inventário como parte do processo de avaliação de impacto ambiental.
    • Acordos Setoriais: Alguns setores podem ter acordos específicos com o governo que incluem a obrigatoriedade do inventário de emissões como parte das metas de redução. Exemplo: Acordos setoriais na indústria de cimento e siderurgia.
  • Obrigações Contratuais:
    • Contratos com o Setor Público: Empresas que prestam serviços ou fornecem produtos para órgãos públicos podem ser obrigadas a apresentar inventários de emissões como parte dos critérios de seleção e avaliação. Isso está alinhado com a crescente preocupação do setor público com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental.
  • Voluntário:
    • Mesmo que não haja obrigatoriedade legal, muitas empresas optam por realizar o inventário de emissões de forma voluntária. Essa prática demonstra compromisso com a sustentabilidade, melhora a imagem da empresa, atrai investidores e consumidores conscientes, e pode identificar oportunidades de redução de custos e melhoria da eficiência. Além disso, a realização voluntária do inventário pode preparar a empresa para futuras regulamentações e exigências do mercado.

#### Importância do Inventário:

* Identificação e Quantificação: Permite identificar e quantificar as fontes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) na empresa, incluindo emissões diretas (decorrentes de fontes que pertencem ou são controladas pela empresa) e emissões indiretas (decorrentes do consumo de eletricidade, calor ou vapor gerados por terceiros).
  • Metas de Redução: Ajuda a estabelecer metas realistas de redução de emissões, com base em dados concretos e análises detalhadas. As metas podem ser definidas em termos absolutos (redução da quantidade total de emissões) ou em termos de intensidade (redução das emissões por unidade de produção ou receita).
  • Monitoramento: Possibilita monitorar o progresso das ações de redução e ajustar as estratégias conforme necessário. O monitoramento contínuo permite identificar desvios em relação às metas e implementar medidas corretivas.
  • Certificações e Selos: Facilita a obtenção de certificações e selos de sustentabilidade reconhecidos no mercado, como ISO 14064, GHG Protocol Product Standard e selos de baixo carbono.
  • Transparência: Atende às demandas de clientes, investidores e outras partes interessadas por transparência ambiental. A divulgação pública do inventário de emissões demonstra o compromisso da empresa com a sustentabilidade e fortalece sua reputação.
  • Vantagem Competitiva: Empresas que realizam o inventário de emissões e implementam ações de redução podem obter uma vantagem competitiva no mercado, atraindo clientes e investidores que valorizam a sustentabilidade. Além disso, a redução de emissões pode gerar economia de custos e aumentar a eficiência operacional.

#### Como Realizar o Inventário: Conheça a Calculadora da Plataforma Sustain

1. Definir o Escopo: Determinar quais emissões serão incluídas no inventário (diretas – Escopo 1, indiretas – Escopo 2 e outras indiretas – Escopo 3). O Escopo 1 inclui emissões de fontes que pertencem ou são controladas pela empresa, como a queima de combustíveis em caldeiras e veículos. O Escopo 2 inclui emissões decorrentes do consumo de eletricidade, calor ou vapor gerados por terceiros. O Escopo 3 inclui outras emissões indiretas, como as emissões da cadeia de suprimentos, transporte de produtos e viagens de negócios.
  1. Coletar Dados: Reunir dados sobre consumo de energia, combustíveis, matérias-primas, transporte, resíduos, etc. É importante garantir a qualidade e a precisão dos dados coletados, utilizando medidores calibrados e registros confiáveis.
  2. Calcular as Emissões: Utilizar metodologias e fatores de emissão apropriados para calcular as emissões de GEE. O GHG Protocol é uma das metodologias mais utilizadas e reconhecidas internacionalmente. Os fatores de emissão podem ser obtidos em fontes como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e agências ambientais nacionais.
  3. Elaborar o Relatório: Documentar os resultados do inventário em um relatório claro e transparente, incluindo a metodologia utilizada, os dados coletados, os cálculos realizados e as conclusões. O relatório deve ser elaborado de acordo com as normas e diretrizes aplicáveis.
  4. Verificar e Validar: Submeter o inventário a uma verificação independente realizada por uma empresa acreditada para garantir sua precisão e credibilidade. A verificação independente aumenta a confiança das partes interessadas nos resultados do inventário.

#### Recomendações:

* Consultar a Legislação: Verifique a legislação ambiental vigente em sua região e as normas específicas do seu setor. Consulte os órgãos ambientais competentes e mantenha-se atualizado sobre as mudanças na legislação.
  • Órgãos Ambientais: Busque informações junto aos órgãos ambientais competentes (federal, estadual e municipal). Os órgãos ambientais podem fornecer orientações sobre as obrigações legais e as melhores práticas para a realização do inventário de emissões.
  • Normas e Diretrizes: Utilize normas e diretrizes reconhecidas, como o GHG Protocol, ISO 14064 e outras normas específicas do setor, para realizar o inventário de emissões. A utilização de normas e diretrizes reconhecidas garante a qualidade e a comparabilidade dos resultados.
  • Engajamento: Envolver a alta administração e os funcionários da empresa no processo de inventário e nas ações de redução de emissões. O engajamento de todos os níveis da empresa é fundamental para o sucesso do programa de gestão de emissões.
  • Atualização Contínua: O inventário de emissões deve ser atualizado periodicamente (geralmente anual) para refletir as mudanças nas atividades da empresa e nas metodologias de cálculo. A atualização contínua garante que o inventário reflita a realidade da empresa e permita o monitoramento do progresso das ações de redução de emissões.

#### Resumo:

O inventário de emissões de CO2 é obrigatório para empresas de alto impacto ambiental e aquelas sujeitas a regulamentações específicas. Mesmo que não seja obrigatório, realizar o inventário voluntariamente pode trazer diversos benefícios, incluindo melhoria da imagem da empresa, atração de investidores e consumidores conscientes, e identificação de oportunidades de redução de custos e emissões. A realização do inventário de emissões é um passo fundamental para a gestão das emissões de GEE e a contribuição para a mitigação das mudanças climáticas.